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Do elixir do imperador chinês ao “desbronzeador” indiano
Regina Nogueira
2015
#mundonamouraria
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Do elixir do imperador chinês ao “desbronzeador” indiano
Regina Nogueira
2015
Artigo retirado da edição 9 do Jornal Rosa Maria. Esta edição poderá ser consultada na íntegra aqui.
#mundonamouraria
#migração
#históriasdomundo



Registos fotográficos da Loja Hua Ta Li
Quando o Nepal se recompunha do brutal terramoto, em Abril, encontrámos o Madhu Sudan, longe da família, mas “em casa” no que toca a iguarias. Trabalha com a indiana Seera, fã das pétalas de rosa.
Muitas vezes me questiono se devo jantar bifinhos de peru ou febras, apetecendo-me descobrir um novo prato preferido no meio da escolha escassa. Mas, se os rótulos vierem escritos numa língua estrangeira, a mudança custa ainda mais. É por isso que o ROSA MARIA parte à descoberta, por entre ruas e conversas, de paladares de outros pontos do globo nos bazares da Mouraria.
Junto à Praça Martim Moniz, na Rua Fernandes da Fonseca, o supermercado chinês Hua Ta Li parece-me o sítio ideal para começar esta viagem. Por entre prateleiras repletas de embalagens, potes, garrafas e latas que nunca vi, ervas, plantas e flores de que nunca ouvi falar, os meus olhos pousam numa estranha raiz que, no invólucro, promete longevidade.
“O Astragalus usa-se para fazer chá e tem inúmeros benefícios para a saúde, ajudando o corpo a resistir a doenças cardiovasculares ou a problemas renais”, explica-me uma senhora chinesa. Consta que, há cinco mil anos, só a família do imperador podia usar o Astragalus, e quem não estava autorizado a fazê-lo arriscava pena de morte se desafiasse a regra.
Continuei a conversa para satisfazer a curiosidade acerca de uma lata verde com ar de desenho animado, que reconheci de um blogue de foodies (palavra inglesa que define os apaixonados por gastronomia), descrita como o petisco mais viciante de todos os tempos. As ervilhas Koh Kae vêm prontas a comer, crocantes e cobertas por uma camada de pó de wasabi. No Hua Ta Li encontramos ainda amendoins da mesma marca, com este e outros sabores.
Antes de seguir caminho, comprei o vinagre branco de arroz Narcissus (uma óptima ajuda para perder peso), que, segundo a mesma senhora, é ideal para todo o tipo de saladas e peixes, e muito utilizado no sushi. “Eu não sei cozinhar, senão dava-lhe umas dicas”, diz-me com um sorriso.
Saí em direcção à minha próxima paragem: a loja Spice Rack, no Centro Comercial Martim Moniz. Sou imediatamente recebida por uma rapariga indiana muito simpática, a Seera. Nas prateleiras, há uma embalagem que logo capta a minha atenção: Fair & Lovely, um creme para branquear a pele, muito popular na Índia. O princípio é o mesmo que o dos bronzeadores, mas o efeito é o contrário. “Nunca estamos satisfeitos; quem tem a pele clara quer escurecê-la e quem tem a pele escura quer aclará-la”, diz Seera. A loção também promete uniformizar a tez e reduzir as olheiras.
Partindo para outras aventuras, nada melhor do que falar nos deliciosos aperitivos Seth’s Khakhra, de feno-grego ou de cominhos e outras especiarias. São tradicionalmente acompanhados com chá e “primos” do papari. “A diferença é que o papari é feito de farinha de lentilhas, enquanto estes são de farinha de trigo.”
Madhu Sudan, outro funcionário da loja, está em Lisboa há poucos meses. Veio do Nepal à procura de oportunidades e de “um futuro melhor”. Diz Madhu: “Esta loja tem tudo; conseguimos encontrar mais de 90% das especiarias que uso no meu país”. A Seera acrescenta: “Eu ainda faço a minha sobremesa preferida, o Gulab Jamun, que são bolinhos de leite preparados em calda de água de rosas; e uso pétalas de rosa comestíveis”. No Spice Rack encontramos Rose Petal Spread da Ahmed Foods, que servem sobretudo para enfeitar sobremesas e batidos. “É muito comum na cozinha indiana.” Os olhos de Madhu iluminam-se quando pensa nas iguarias. “Sinto mesmo muita falta”, lamenta, com ar subitamente preocupado.
Digo-lhes adeus, sabendo que voltarei sempre que me achar com as receitas e os dias insossos, independentemente do sal que lhes deite, para me perder nos recantos da Mouraria. Porque, quando o sal não chega, às sementes de alcaravia, de ajwain ou de endro – da loja Gordib, na Rua dos Cavaleiros –, não há bifinhos que façam frente.
Muitas vezes me questiono se devo jantar bifinhos de peru ou febras, apetecendo-me descobrir um novo prato preferido no meio da escolha escassa. Mas, se os rótulos vierem escritos numa língua estrangeira, a mudança custa ainda mais. É por isso que o ROSA MARIA parte à descoberta, por entre ruas e conversas, de paladares de outros pontos do globo nos bazares da Mouraria.
Junto à Praça Martim Moniz, na Rua Fernandes da Fonseca, o supermercado chinês Hua Ta Li parece-me o sítio ideal para começar esta viagem. Por entre prateleiras repletas de embalagens, potes, garrafas e latas que nunca vi, ervas, plantas e flores de que nunca ouvi falar, os meus olhos pousam numa estranha raiz que, no invólucro, promete longevidade.
“O Astragalus usa-se para fazer chá e tem inúmeros benefícios para a saúde, ajudando o corpo a resistir a doenças cardiovasculares ou a problemas renais”, explica-me uma senhora chinesa. Consta que, há cinco mil anos, só a família do imperador podia usar o Astragalus, e quem não estava autorizado a fazê-lo arriscava pena de morte se desafiasse a regra.
Continuei a conversa para satisfazer a curiosidade acerca de uma lata verde com ar de desenho animado, que reconheci de um blogue de foodies (palavra inglesa que define os apaixonados por gastronomia), descrita como o petisco mais viciante de todos os tempos. As ervilhas Koh Kae vêm prontas a comer, crocantes e cobertas por uma camada de pó de wasabi. No Hua Ta Li encontramos ainda amendoins da mesma marca, com este e outros sabores.
Antes de seguir caminho, comprei o vinagre branco de arroz Narcissus (uma óptima ajuda para perder peso), que, segundo a mesma senhora, é ideal para todo o tipo de saladas e peixes, e muito utilizado no sushi. “Eu não sei cozinhar, senão dava-lhe umas dicas”, diz-me com um sorriso.
Saí em direcção à minha próxima paragem: a loja Spice Rack, no Centro Comercial Martim Moniz. Sou imediatamente recebida por uma rapariga indiana muito simpática, a Seera. Nas prateleiras, há uma embalagem que logo capta a minha atenção: Fair & Lovely, um creme para branquear a pele, muito popular na Índia. O princípio é o mesmo que o dos bronzeadores, mas o efeito é o contrário. “Nunca estamos satisfeitos; quem tem a pele clara quer escurecê-la e quem tem a pele escura quer aclará-la”, diz Seera. A loção também promete uniformizar a tez e reduzir as olheiras.
Partindo para outras aventuras, nada melhor do que falar nos deliciosos aperitivos Seth’s Khakhra, de feno-grego ou de cominhos e outras especiarias. São tradicionalmente acompanhados com chá e “primos” do papari. “A diferença é que o papari é feito de farinha de lentilhas, enquanto estes são de farinha de trigo.”
Madhu Sudan, outro funcionário da loja, está em Lisboa há poucos meses. Veio do Nepal à procura de oportunidades e de “um futuro melhor”. Diz Madhu: “Esta loja tem tudo; conseguimos encontrar mais de 90% das especiarias que uso no meu país”. A Seera acrescenta: “Eu ainda faço a minha sobremesa preferida, o Gulab Jamun, que são bolinhos de leite preparados em calda de água de rosas; e uso pétalas de rosa comestíveis”. No Spice Rack encontramos Rose Petal Spread da Ahmed Foods, que servem sobretudo para enfeitar sobremesas e batidos. “É muito comum na cozinha indiana.” Os olhos de Madhu iluminam-se quando pensa nas iguarias. “Sinto mesmo muita falta”, lamenta, com ar subitamente preocupado.
Digo-lhes adeus, sabendo que voltarei sempre que me achar com as receitas e os dias insossos, independentemente do sal que lhes deite, para me perder nos recantos da Mouraria. Porque, quando o sal não chega, às sementes de alcaravia, de ajwain ou de endro – da loja Gordib, na Rua dos Cavaleiros –, não há bifinhos que façam frente.