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Turistificação das coisas

Pina Neto
2019

Artigo retirado da edição 11 do Jornal Rosa Maria. Esta edição poderá ser consultada na íntegra aqui.


#crisehabitacional  
#investirnobairro



[2] Numa segunda-feira de manhã, este é o cenário que se encontra na Praça do Martim Moniz, não existindo sinal dos mesmos abrigos e tendas avistados no dia anterior, como se de outra realidade se tratasse

Eu nem percebia nada de apetite imobiliário, tão pouco entendia isto da rotatividade de cidades que estão na "moda", mas já fazia conjeturas. Disse muitas vezes que o mundo tem girado tão rápido e convulsivamente que talvez chegasse a Lisboa sem que estivéssemos preparados para tal.

Chegou em forma de atração turística. Desde que deitaram abaixo habitações, melhor, arranha-céus, lá nas longínquas terras do Tio Sam, que se sentiu a terra tremer por cá. Também disse, há mais de 15 anos, que dificilmente uma cidade tão bonita como Lisboa ficaria de fora da tão complexa coisa que é o apetite turístico.



Demorou, mas chegou. E chegou com ventos fortes e terríveis para as “gentes” das sete colinas. Chegou com pás e picaretas para arrancar gentes ou, melhor, gentrificá-las. Já muito se escreveu sobre a coisa, entretanto a coisa tem muitas coisas.



A coisa mostrou, por exemplo, que a economia e as finanças podem, até, substituir ou perturbar a herança cultural. Vai-se deixando uma ou outra coisa para os ingleses e os amigos verem, mas os cifrões têm cá um peso mesmo que se estrebuche: vão descendo calçadas após calçadas.

Não deixo, contudo, de salientar a importância que é mostrar as ruas e suas histórias aos outros. Sobretudo quando contar essas histórias traz saldo monetário para dentro das janelas. Aí surge a pergunta da coisa que é a coisa turística. E as suas gentes!? É que, por mais que se explique a coisa que é o dinheiro, ele nunca chega a ser convertido em salário e, consequentemente, qualidade de vida para os habitantes.

Assim sendo, convém contar aos turistas, nas tours, a história do turismo.

[1] Na zona da Praça do Martim Moniz, são vários os abrigos e casas improvisadas que se avistam durante o dia