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Porquê viver na Mouraria?
Oriana Alves
2010

Artigo retirado da edição 1 do Jornal Rosa Maria. Esta edição poderá ser consultada na íntegra aqui.


#históriadoterritório





Registos da rua da Mouraria, uma das principais ruas do bairro

PORQUE VEIO VIVER PARA A MOURARIA?

“Vim viver para a Mouraria porque é mais barato. Descobri a casa em que vivo num anúncio de jornal, há dois anos. No início, à noite, tinha até um bocadinho de medo, por causa da prostituição e da droga, mas depois percebi que o bairro é pobre mas não é perigoso.”

Renata Oliveira (29 anos) | brasileira ; ajudante de cozinha



“Tinha aqui uns cachopos da minha terra, Fajão, na Pampilhosa da Serra, um casal amigo, e eles é que me disseram que havia uma casa para alugar ao pé deles e realmente havia aqui muita gente da minha zona. Eu trabalhava num lar de raparigas universitárias e achava que Lisboa tinha mais vida, mas afinal aqui a solidão ainda é maior do que lá na minha aldeia.”

Etelvina Iria (56 anos) | portuguesa ; empregada de limpeza



“Vim para cá quando fiquei desempregado, há um ano. Tinha um amigo que vivia aqui num prédio abandonado, eu não podia pagar a renda da casa onde vivia, na Amadora, e vim. Tomo banho no balneário do Centro Comercial da Mouraria. Agora comecei a receber subsídio de desemprego, mas são 300 euros, não dá para pagar um quarto. Gosto de viver aqui. Inscrevi-me no Grupo Gente Nova e vou lá ver os jogos de futebol e conversar, e já me tentei inscrever na Junta mas ainda não foi possível porque estou à espera da autorização de residência.”

Komba Honoré (42 anos) | angolano ; pedreiro (desempregado)



“Calhou. Eu e a minha companheira andávamos há nove meses à procura de casa no centro histórico e com boas acessibilidades: ou era muito caro ou eram casas terríveis. E um dia, passeando na Rua Marquês de Ponte de Lima que, ao contrário da maior parte das ruas do bairro, é larga e luminosa, pensámos que se houvesse uma casa ali não era nada mau. Vimos uma placa de “vende-se”, ligámos, vimos a casa, que tinha uma vista maravilhosa, e ficámos. Foi sem dúvida a melhor relação qualidade/preço.”

Ivan Azevedo (34 anos) | português ; jurista



“Estava num quarto em Arroios, na casa de uma senhora que colocava imensas restrições: a luz, os horários. Enfim coisas que não se coadunam com a vida de estudante universitário - eu estava a estudar enfermagem. A casa mais barata que encontrei foi aqui na Vila Almeida, muito pequenina, mas eu tinha tanta necessidade de mudar que fiquei, e já vai fazer 13 anos.”

Eunice Epalanga (40 anos) | angolana ; trabalhadora na restauração e artista plástica



“Vim para a Mouraria porque tinha cá muitos amigos e porque este bairro é o mais forte em comércio e as pessoas são muito sociáveis. Eu vivi cá entre 1996 e 2004, depois tive um filho e tive de mudar, mas comprei casa aqui perto, na Praça do Chile. Estou cá todos os dias porque tenho uma loja de vestuário e bijuteria, e gosto muito do bairro e de Portugal. Já tinha estado noutros países europeus e senti muito racismo; aqui nunca senti racismo.”

Rabbir Hassain (39 anos) | bengalês ; comerciante