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Como é ser emigrante e residir na Mouraria? // Khaled
Maria Ribeiro
2023

#migração
#mundonamouraria

#históriasdomundo




[1] Original: “We come from Asia thinking that we will earn a lot in Europe but we have our families in our country, we need to send them money, and with the room expenses and after paying for food, there is no money lefting. How do you survive in Portugal with these low salaries and high costs of life? Bengali people are struggling here, we are closed and don’t talk much about that but I can’t see that most of us are suffering.” (trad.livre)

Khaled é oriundo do Bangladesh e vivia na capital do país, Daca, até há cerca de quatro anos atrás, altura em que decidiu emigrar. Com uma licenciatura em engenharia informática, esperava seguir os seus estudos e realizar um mestrado na Suécia, onde permaneceu durante cerca de três meses, mas acabou por não ser possível. Decidiu vir para Portugal em busca de oportunidades, mas atualmente sente-se desiludido face à qualidade de vida que tem no nosso país, considerando os preços muito elevados para os rendimentos comuns, principalmente ao nível da habitação. Quando chegou a Portugal ainda ponderou voltar a estudar e iniciar o seu mestrado, mas mesmo estando a trabalhar a tempo inteiro, tornou-se inviável suportar a sua estadia e conseguir ainda pagar o curso. Para além das suas despesas e tal como muitos outros emigrantes, Khaled deixou a sua mulher e a filha de ambos em Daca, e envia-lhes parte do seu rendimento mensal para as ajudar com as despesas. Aluga um quarto no bairro da Mouraria no valor de 300€, e recebendo apenas o ordenado mínimo, pouco lhe sobra ao final do mês.

Khaled veio para Portugal com o intuito de trabalhar na sua área mas o processo de obtenção do visto de residência demorou mais do que esperava e sem ele, tornou-se difícil arranjar trabalho. Acabou por conseguir emprego numa loja de malas, onde ainda hoje trabalha, no Centro Comercial da Mouraria, cujo dono é também bengalês. Conta que quando começou a pandemia e os confinamentos, o centro comercial estava sempre vazio e não se via ninguém nas ruas. Terá sido a fase mais complicada que passou desde que chegou a Portugal, o seu chefe não lhe conseguia pagar o ordenado completo pois perdeu a maior parte dos rendimentos, e dava-lhe apenas o valor suficiente para cobrir a renda do quarto. Atualmente enfrenta dificuldades também, com o aumento dos preços e por esse motivo, não vê um futuro a longo prazo em Portugal. A acrescer às dificuldades económicas, Khaled luta também com uma depressão, tornando toda a situação mais difícil, principalmente tendo a sua família longe.



“Nós vimos da Ásia a pensar que vamos receber bons ordenados na Europa, mas com as nossas famílias ainda no nosso país a quem enviamos dinheiro, e depois de pagar a habitação e a alimentação, mal nos sobra dinheiro. Como é que se sobrevive em Portugal com estes salários baixos e custos de vida elevados? Os bengaleses estão com dificuldades aqui, nós somos um povo fechado, não falamos muito sobre isso, mas consigo perceber que a maior parte de nós está a sofrer.” [1]



A desilusão de Khaled face à realidade que encontrou em Portugal não é, segundo ele, um sentimento incomum. A comunidade oriunda do Bangladesh é atualmente a mais expressiva no bairro da Mouraria e segundo Khaled, a maior parte veio para cá pois existe esta ideia nos países asiáticos de que se podem obter rendimentos mais elevados nos países europeus. Porém, a maior parte da comunidade emigrante está, tal como ele, com dificuldades em permanecer e sobreviver em Portugal.

A curto prazo, Khaled conta mudar-se para o Monte Abraão, uma zona não tão central da cidade, para conseguir pagar uma renda inferior e ganhar qualidade de vida, sendo que a sua irmã e cunhado também residem nessa mesma zona. Neste momento encontra-se à espera de receber o seu passaporte, e depois poderá pensar noutras paragens. Quanto à mulher e à filha, não há previsão de que se juntem a ele em Portugal, pois como não conta ficar muito tempo, considera que não valeria a pena virem pois não teriam tempo suficiente para se integrar, principalmente devido ao idioma. Planeia viajar para a Suécia quando conseguir o seu passaporte, para junto de uma irmã que lá vive, e reunir finalmente a família, na esperança de encontrar um cenário mais tranquilo e estável para si, e para os seus.