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O café da Parreirinha e um pedaço de história da família Loreti // Fabia, Henrique e Carlos
Maria Ribeiro
2023
O café da Parreirinha e um pedaço de história da família Loreti // Fabia, Henrique e Carlos
Maria Ribeiro
2023
Carlos Loreti nasceu e cresceu no bairro da Mouraria, e faz parte da sexta geração da família Loreti. Trabalha como empregado de mesa no café Parreirinha, um café e restaurante familiar situado na Rua da Guia. Com 57 anos, Carlos ainda se lembra de ser pequeno e daquele espaço ser um carvoeiro, uma espécie de drogaria onde se vendia de tudo e, inclusive, onde as pessoas do bairro iam tomar banho. Há cerca de 50 anos atrás, as casas do bairro não tinham casas de banho, usavam-se pias de despejo, e o único chuveiro que existia era ali no carvoeiro. As pessoas dirigiam-se assim ao espaço para tomar banho, na altura por 50 escudos, cerca de 0,25 cêntimos. Ainda era Carlos criança quando o espaço se tornou um café, tendo passado já por três famílias diferentes até aos dias de hoje, mas mantendo sempre o mesmo perfil de atendimento atencioso e próximo. Para Carlos, as mudanças no bairro não foram apenas físicas, como é o caso deste espaço, mas também ao nível do ambiente e da segurança que se sente no mesmo. Vê o bairro mais multicultural, sentindo que se perdeu parte do espírito familiar, apontando que na Junta de Freguesia de Santa Maria Maior existem 6000 pessoas recenseadas e cerca de 54 países representados.
Carlos é também o filho mais velho do filho mais velho de Fabia Loreti, um nome conhecido no bairro, e que até se pode encontrar na Rua João do Outeiro, numa placa afixada junto à sua antiga casa, em sua homenagem. A homenagem surge do facto de Fabia ter sido mãe de 21 crianças, todas nascidas e criadas no bairro da Mouraria, e segundo o seu neto, acabava por cuidar de muitas outras crianças do bairro:
Fabia nasceu numa família com posses, costumava dizer a Carlos em tom de brincadeira que era uma menina fina, pois sabia tocar piano e falar francês, o que para a época (séc.XIX) era sinónimo de alguma riqueza. Henrique era passarinheiro, apanhava pássaros vivos em Torres Vedras, onde residia, e vinha para Lisboa para participar nas feiras e vendê-los. Foi em Lisboa, onde Fabia vivia, que se conheceram, tinha Fabia apenas 16 anos. Na altura encontraram-se numa feira em que Henrique trabalhava, e este ficou imediatamente encantado com ela. Vestiu-se a rigor para se apresentar ao seu pai e pedir que este autorizasse a que passeassem juntos, devidamente acompanhados, mas quando o pai de Fabia percebeu a profissão de Henrique, negou o seu pedido, por considerar que pertenciam a classes diferentes e dessa forma, não se deveriam relacionar. O pai de Fabia disse-lhe que deveria casar brevemente e esta recusou-se, pois se não cassasse com Henrique, não casaria com mais ninguém. O pai ripostou e tentou enviá-la para um convento, mas Fabia fugiu de casa para junto de Henrique, e desde esse dia que não voltou a ver os pais. Fabia e Henrique fixaram-se no bairro da Mouraria, junto de familiares de Henrique que lá viviam, uma família italiana que havia emigrado para Portugal há alguns anos - Loreti. Os bisavós de Carlos não conheceram nenhum dos seus vinte e um netos e, aquando a sua morte, deixaram a sua vasta fortuna à Santa Casa da Misericórdia, pois nunca haviam retomado o contacto com a sua única filha. Carlos relembra os seus avós com carinho, reforçando que foi um amor especial e, até ao fim das suas vidas, andaram sempre pelo bairro, juntos e de mãos dadas, ainda apaixonados. Apesar da maior parte da família Loreti não continuar a residir no bairro, o nome de Fabia e Henrique mantém-se vivos entre os moradores, não só visualmente, através da placa que homenageia a sua história, como através de familiares como o Carlos, que mantêm viva a sua memória, através da partilha generosa da sua história com outras pessoas.
“Isto antigamente era uma família. A minha filha mais velha tem 37 anos, e eu estava habituado a deixá-la andar na rua, dizia-lhe para sair de casa, para ir brincar. Havia sempre algumas velhotas à janela que controlavam e tomavam conta das crianças, e até as chateavam e diziam coisas do género: “olha que eu estou-te a ver e digo ao teu pai!”. Hoje em dia não, eu acho que qualquer pai ou mãe que deixe um filho vir para a rua sozinho, é um pouco inconsciente, é um perigo.”
Carlos é também o filho mais velho do filho mais velho de Fabia Loreti, um nome conhecido no bairro, e que até se pode encontrar na Rua João do Outeiro, numa placa afixada junto à sua antiga casa, em sua homenagem. A homenagem surge do facto de Fabia ter sido mãe de 21 crianças, todas nascidas e criadas no bairro da Mouraria, e segundo o seu neto, acabava por cuidar de muitas outras crianças do bairro:
“Para além de ser mãe de 21, a minha avó ainda teve tempo de ser mãe de muitos aqui do bairro, pois as mães das crianças iam trabalhar e ela cuidava dos miúdos. “Anda cá ver se tens piolhos… ; Já comeste alguma coisa hoje?”… Era assim. Tinha 1,40m mas chegava a todo o lado. O meu avô por outro lado, tinha 1,80m. Eram muito engraçados os dois juntos, e a história deles parece mesmo uma história de filme.”
Fabia nasceu numa família com posses, costumava dizer a Carlos em tom de brincadeira que era uma menina fina, pois sabia tocar piano e falar francês, o que para a época (séc.XIX) era sinónimo de alguma riqueza. Henrique era passarinheiro, apanhava pássaros vivos em Torres Vedras, onde residia, e vinha para Lisboa para participar nas feiras e vendê-los. Foi em Lisboa, onde Fabia vivia, que se conheceram, tinha Fabia apenas 16 anos. Na altura encontraram-se numa feira em que Henrique trabalhava, e este ficou imediatamente encantado com ela. Vestiu-se a rigor para se apresentar ao seu pai e pedir que este autorizasse a que passeassem juntos, devidamente acompanhados, mas quando o pai de Fabia percebeu a profissão de Henrique, negou o seu pedido, por considerar que pertenciam a classes diferentes e dessa forma, não se deveriam relacionar. O pai de Fabia disse-lhe que deveria casar brevemente e esta recusou-se, pois se não cassasse com Henrique, não casaria com mais ninguém. O pai ripostou e tentou enviá-la para um convento, mas Fabia fugiu de casa para junto de Henrique, e desde esse dia que não voltou a ver os pais. Fabia e Henrique fixaram-se no bairro da Mouraria, junto de familiares de Henrique que lá viviam, uma família italiana que havia emigrado para Portugal há alguns anos - Loreti. Os bisavós de Carlos não conheceram nenhum dos seus vinte e um netos e, aquando a sua morte, deixaram a sua vasta fortuna à Santa Casa da Misericórdia, pois nunca haviam retomado o contacto com a sua única filha. Carlos relembra os seus avós com carinho, reforçando que foi um amor especial e, até ao fim das suas vidas, andaram sempre pelo bairro, juntos e de mãos dadas, ainda apaixonados. Apesar da maior parte da família Loreti não continuar a residir no bairro, o nome de Fabia e Henrique mantém-se vivos entre os moradores, não só visualmente, através da placa que homenageia a sua história, como através de familiares como o Carlos, que mantêm viva a sua memória, através da partilha generosa da sua história com outras pessoas.