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Diz adeus ao sol poente
José Álvaro
Letra: José Álvaro
Música: Fado Perseguição [Carlos da Maia]
2010

Conteúdo retirado do áudio-livro publicado no âmbito do concurso e de igual forma intitulado, Há Fado na Mouraria. O livro foi editado e publicado pela Boca, em colaboração com a Associação Renovar a Mouraria.

#háfadonamouraria



Diz adeus ao sol poente
Que cai ao longe no mar
E faz todo o céu vermelho
Sobe a Lua no nascente
Ainda bem que hoje há luar
E que a água parece um espelho

As nuvens desapareceram,
Centos de estrelas surgiram
No céu bem negro e profundo
A noite refresca o ar
Ouve-se ao longe cantar
Não acaba agora o mundo

O mar bate de mansinho
Banhando a praia sereno
E o rochedo da costa
Gaivotas dormem no ninho
Lembro-me disto em pequeno
E nada aqui me desgosta

O penhasco da arriba
Tem uma forma parecida
Com monstros d’antigamente
Suspenso do seu lugar
Assusta quem lá passar
Amedronta toda a gente

O vento que vem do Norte,
Faz-se sentir certo e forte
Junto à costa à beira-mar
E nos ressaltos da praia
Levanta do chão areia
Arrastando-a pelo ar

Sentado na pedra alta
Penso que pouco me falta
Com tanta calma em redor
Falta-me só que na terra
Em vez de armas e guerra
Haja mais paz e amor


José Álvaro tem 73 anos e está neste momento reformado. Estreou-se no Fado quando teve a sua primeira guitarra, aos 14 anos, em Rio Grande, terra natal, na Lourinhã. Sem antecedentes familiares fadistas, tocou os primeiros acordes de Fado na companhia de dois amigos que iam passar férias à praia da Areia Branca. Trabalhou no ramo da metano-mecânica pesada, fazendo cálculos para a edificação de prédios e grandes construções, mas o Fado e a guitarra portuguesa acompanharam-no sempre, até no serviço militar, em Bissau, onde por vezes suspendia os sofrimentos da Guerra Colonial nos trinados da canção de Coimbra.
É autor de muitos dos poemas que conta sobre músicas de fados “tradicionais” com estrutura melódica repetitiva, adequada ao acompanhamento de poemas estróficos, e por isso esteve como peixe na água neste concurso de poemas originais sobre fados estróficos.
Agora vem menos a Lisboa, mas todas as quartas-feiras canta no Vigia, clube onde se reúne a fadistagem da Lourinhã. Quando aparece estrangeiros não os deixa na escuridão, faz da letra a tradução e canta o Fado em inglês.